quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Bundas

Perdoem-me a analogia de gosto duvidoso, mas todo mundo sabe que "opinião é que nem bunda: cada um tem a sua e dá quando quer".

Faz parte da democracia, é direito soberano, liberdade de expressão, etc e tal.



Por outro lado, se "o peixe morre pela boca", muita gente (inclusive EU) tem mais é que agradecer por não ter escamas, porque, né? Vivemos perdendo oportunidades incríveis de calar a boca, coisa que aliás eu devia fazer sobre este asunto, mas NÃO CONSIGO, tamanha minha indignação.

USP. Universitários. Maconheiros. Ocupação. Baderna. Polícia. Repressão. Imprensa. Circo.

Antes de mais nada, por favor entendam que eu NÃO ESTOU TOMANDO PARTIDO nesta situação. Não estou tomando partido porque sei muito pouco sobre o assunto. Assim como a maioria das pessoas, apenas li/vi/ouvi as notícias através da imprensa (vários veículos e não apenas os de direita ou de esquerda, que fique claro), e não acredito que essas informações não raras vezes tendenciosas sejam suficientes para que eu, que não tenho nada a ver com a USP e não lido com esses assuntos no meu cotidiano, forme uma OPINIÃO concreta e bem fundamentada.

Tenho alguns palpites de acordo com a minha própria interpretação do que li aqui e ali, mas posso estar redondamente enganada, então sigo apenas acompanhando o caso e torcendo pra que tudo termine bem, afinal, estamos falando, por um lado, de Universitários que ingressaram na maior Faculdade pública do país através de um concorridíssimo vestibular (e independentemente de serem filhinhos de papai ou não, maconheiros ou não, conquistaram a vaga com mérito) e por outro lado de uma Universidade que não tem a fama que tem à toa. É talvez a melhor ou uma das melhores. Todo mundo quer estudar na USP.

Fato é que, na minha modesta e limitada opinião, houve excessos de todos os lados, desde o começo. E quando eu digo todos os lados, estou me referindo a todos mesmo, inclusive ao Poder Público / Polícia, Imprensa (às vezes tão podre), e aos próprios Universitários que colocaram a perder as razões que eventualmente tivessem ao agirem de maneira infantil e intrasigente, segundo consta.

Não vejo culpados nem inocentes; vejo apenas um monte de erros baseados na abdicação do argumento em prol da violência, o que é uma contradição quase incompreensível se lembrarmos que estamos falando de uma situação ocorrida dentro de uma Universidade, que deveria ser ambiente para a prática da boa inteligência, e não da DESINTELIGÊNCIA vista.

Porque é isso que a violência (em todos os sentidos) faz: ela sufoca qualquer possibilidade de alternativas inteligentes e criativas, ela se sobrepõe à argumentação e abre espaço para radicalismos que não levam ninguém a lugar nenhum, e no fim das contas sai todo mundo perdendo. Até quem estava com a razão (e a razão podia estar dividida entre vários lados) acaba perdendo a razão. Sobra apenas o retrato de um fato lamentável onde nada se aprendeu e muito se perdeu. Perda de tempo, de recursos, de dinheiro, de dignidade... Perda de OPORTUNIDADE de exercer a civilidade!

O que me causou mais espanto / nojo / vergonha / desesperança nesse episódio todo, contudo, não está ligado às atitudes dos Universitários, nem da Reitoria, nem da Polícia, nem da Imprensa. O que me causou e está me causando NÁUSEAS são algumas manifestações que as pessoas têm expressado a respeito do caso, especialmente nas Redes Sociais.

"Esta pessoa acha que a Polícia tem mais é que descer a porrada / o sarrafo / a borracha / o cacete nestes Maconheiros!"

A frase acima e uma infinidade de variáveis que dizem a mesma coisa está circulando, em forma de banner ou charge ou imagem no Facebook há alguns dias. E me causa arrepios cada vez que leio.

Pior que isso é saber que existem muitas pessoas dentro do meu limitado círculo de "amigos" do Facebook que postam isso, e curtem, e bradam que, "sim, tem que descer a porrada!".

Genteeeeee, pelo amor de Deus! Quem são vocês, que não reconheço?

Em que momento voltamos à Idade da Pedra e ganhamos autorização pra agir como selvagens primitivos? Em que momento retrocedemos tanto a ponto de existir quem se orgulhe de incitar a violência?

O que houve com o "Paz e Amor", minha gente? O que houve com a evolução da espécie humana conquistada a duras penas ao longo de centenas de anos?

Porque eu realmente não consigo crer que seres humanos evoluídos e civilizados sejam capazes de, em sã consciência e em pleno ano 2011, defenderem a violência como única alternativa para solução de um problema, seja ele qual for. As pessoas desaprenderam (ou talvez nunca tenham compreendido) o significado de democracia e de civilidade.

Sim, eu sei que em determinados casos, como disse o Alexandre Borges numa discussão no facebook outro dia, a função da Polícia é justamente utilizar a força pra manter a ordem pública. Eu sei disso. Todo mundo sabe disso. Mas daí a TORCER pra que isso aconteça, e comemorar quando acontece, bem... há uma enorme diferença!

Eu sempre admirei aquelas raras operações policiais que a gente vê no noticiário quando uma situação limite é resolvida na base da INTELIGÊNCIA, e ninguém ou quase ninguém sai ferido. Isso pra mim faz sentido, esgotar todos os esforços para que a violência seja uma alternativa muito remota. Isso pra mim é evolução, democracia, civilidade. INTELIGÊNCIA.

E nas tantas outras vezes em que a violência é necessária, mesmo sabendo que foi necessária, ainda assim eu lamento. Lamento porque violência é algo PRIMITIVO, e, sem-querer-me-repetir-já-me-repetindo, faz apenas com que todo mundo contabilize muito mais prejuízos do que lucros.

Não entendo esse ódio que as pessoas estão expondo de maneira tão nojenta! De verdade, não entendo. Não sou melhor nem pior do que ninguém, mas não consigo me ver inserida numa sociedade que pratica esse tipo de "liberdade de expressão", pra incitar a violência, o ódio, o preconceito.

Quem são vocês? O que fizeram com a INTELIGÊNCIA que Deus lhes deu?

Às vezes tenho a impressão que o Cara la de cima olha pra esses comportamentos bizarros e pensa: "Por que raios eu não dei a inteligência para os Macacos?"

Porque, né? Humanos... que VERGONHA de pertencer a esta espécie!

Um comentário:

Anônimo disse...

Então. Eu também não me considero melhor nem pior do que ninguém para achar; entretanto, a única coisa que aprendi nesses anos que Deus me deu foi: "não faça aos outros o que não deseja para si". Estudantes, profissionais, pessoas comuns, TODAS tem o direito sacro santo de reivindicar, ainda que não seja o desejo da maioria, as pessoas tem o direito de ter opinião, afinal, ainda vivemos em um "estado democrático de direito", ou não?