quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Fúria Tepeemística

Então, né.

A pessoa é o que é, e faz tudo que pode nessa vida pra manter a crasse até nas situações mais adversas.

Mas só que a pessoa faz parte da maioria da população mundial, sabe qual é? Aquele grupinho que todo-mês-sangra. Sacou? Então.

E a maioria daquelas pessoas que todo-mês-sangram não só sangram como são submetidas à tortura da dor no fatídico período (malditas cólicas!), e à tortura da tensão pré durante vários dias que antecedem o período negro (ops! vermelho), de modos que a estas pessoas o tempo de vida útil é violentamente reduzido em relação ao tempo de vida útil do outro espécime da raça - aquele que não-sangra.

Mas então, voltemos à pessoa. A pessoa que, nascida bem longe de um berço de ouro, mora mal. É. Mora mal. Lugar ruim, prédio ruim, aquela coisa. Mas é o lar da pessoa, e é o que ela tem para o momento, então a pessoa faz tudo nessa vida pra ser feliz apesar de seus muitos pesares.

Há pouco tempo, no entanto, muita coisa mudou na rua onde a pessoa mora. Porque é uma ruela minúscula onde até então existiam apenas os prédinhos meia-boca de 4 andares e mais uma meia-dúzia da casas velhas sem movimento. Até então.

Porque na cidade que só cresce pra cima constroem-se prédios até onde não cabe, e o fato é que por algum milagre da engenharia 2 torres gigantes de 16 andares ergueram-se ao lado dos prédinhos onde a pessoa mora, da noite para o dia. É. Um belo dia a pessoa acordou e quando olhou pela janela haviam trocentas janelinhas ao fundo, onde antes ela avistava apenas aquela paisagem feiosa de um bairro suburbano de casebres.

E a ruela onde a pessoa mora, obviamente, não tem estrutura para os novos moradores. Imaginem vocês, os postes que transmitiam eletricidade aos prédinhos meia-boca e à meia-dúzia de casinhas mal acabadas não dariam conta de fornecer energia elétrica para o condomínio gigantesco onde vão morar, sei lá, trocentas famílias? Os cabos telefõnicos também não aguentariam, nem a tubulação de esgoto (já imaginou o cano por onde passam os dejetos de 100 pessoas de repente terem que comportar os dejetos de 1000 pessoas? então!).

E depois de toda essa explicação inicial, o que eu queria mesmo contar é que a rua onde a pessoa mora virou um inferno (como se o fato de o lugar ser ruim já não fosse ruim o bastante). Porque, né? É uma ruela que mal comportava o trânsito das carroças velhas dos antigos moradores, e de repente tem que comportar o trânsito lá dos trocentos novos moradores do condomíno de luxo. Nem tem espaço pra circular tantos carros, muito menos para estacioná-los. Considerando-se que a pessoa mora num local onde a noção de civilidade das pessoas é praticamente nula, pode-se dizer que a rua onde a pessoa mora está em "estado de sítio". Impossível chegar e impossível sair.

Mas isso não é tudo, porque as companhias de energia elétrica, de telefonia e de águas e esgotos precisaram tomar providências pra dar vazão aos novos moradores, e foi um tal de buraco pra cá, buraco pra lá, passa cano não sei por onde, passa fio acolá, troca poste, corta e energia pra refazer a infraestrutura, e blablabla. Caos. Caos. Caos.

Os velhos moradores dos prédinhos meia-boca (incluindo-se aí a pessoa) e os velhos moradores das casinhas mal acabadas tiveram que pagar o preço do conforto dos novos moradores do condomínio de luxo com piscina e quadra poliesportiva. Mas tudo bem, a pessoa nem quer ficar reclamando muito disso porque senão as outras pessoas vão acabar dizendo que é despeito por não morar no condomínio de luxo e sim no prédinho meia... ah, vocês entenderam!

Mas aí, né, vamos associar uma coisa à outra. A pessoa tava na TPM e, acreditem, nem era uma simples Tensão Pré-Menstrual. Na verdade a pessoa estava mais como Treinada Para Matar, sabe? Daquele jeito. É, aquele extremo, aquele perigoso que inclusive pode ser atenuante de pena se uma mulher comprovar que cometeu o crime no tal estado, porque a tensão é forte, colega, e até a ciência tem medo de discordar disso.

E daí o caos na rua. Os carros da Sabesp, Eletropaulo, Telefônica e o Diabo tudo furando o que sobrava dos asfalto, onde um furava o outro queria tampar, coisa de doido. E a pessoa ia sair pra levar o filho no colégio, né?

E como a vida da pessoa é muuuuuuuuuuuito corrida, a pessoa faz tudo de forma cronometrada, tipo quartel. Tudo calculadinho para não sobrar nem faltar tempo, mais ou menos assim:

1 minuto pra descer as escadas
+
1 minuto pra entrar no carro
+
1 minuto pra sair da garagem
+
16 minutos de percurso até o colégio
=
20 minutos de antecedência pra sair de casa (com o luxo de ter ainda 1 minuto de "sobra" nesta conta).

Então a pessoa sai de casa 12h40, né? Porque o filho entra no colégio às 13h00. E isso sempre funcionou e sempre deu certo em mais de 2 anos, antes que alguém diga o contrário.

E no dia X a pessoa, seguindo sua rotina, sai de casa, correndo como sempre. Entra no carro, liga o carro, manobra o carro, aperta o botão do controle pra abrir o portão da garagem e... Depara-se com um caminhão betoneira parado bem em frente à saída do seu prédinho meia-boca, despejando concreto ou seja lá o que fosse aquilo numa vala gigante que alguém tinha aberto dias antes.

Tipo assim, o caminhão estava OBSTRUINDO a saída de qualquer pessoa porque estava exatamente em frente ao portão.

Então a pessoa, né, já naquele estado, dá um bip-bip de leve na buzina do seu carro, coloca a cabeça pra fora e pede para um dos operários que estavam do lado de fora do caminhão mexendo lá no concreto:

'_ Moço, pode me dar licença por favor?"

Havia ali uma meia dúzia de homens uniformizados mas a pessoa nem lembra de qual Compania eles eram, não tinha tempo pra reparar no logotipo do uniforme. A pessoa não entendeu muito bem o que todos eles estavam fazendo porque um segurava um negócio lá grudado no caminhão, outro fuçava no concreto com uma pá, os outros olhavam, enfim.

Neste momento todos os operários em questão levantam a cabeça e olham pra pessoa com cara de desdém, e um deles diz:

"_ Ih, madame, pode esperar que o negócio aqui vai demorar um bocado ainda!"

A pessoa, né, já se contorcendo porque seu único minutinho de folga estava prestes a se esgotar e aí sim ela estaria oficialmente atrasada, sem acreditar muito no que ouviu pediu novamente:

"_ Ai, moço, vocês podem me dar licença - e LOGO - porque eu preciso sair AGORA?"

E na segunda vez alguns dos operários até riram levemente, e o mesmo desaforado que falou da primeira vez repetiu:

"_ Ah, madame, a senhora vai ter que esperar porque nós não podemos parar o que estamos fazendo aqui não!".

Aquelas 2 palavras - "VAI TER" - funcionaram como uma chicotada para a pessoa. Vai ter. Como assim "vai ter"? Como alguém ousa dizer o que a pessoa vai ter que fazer num dia normal, quiçá quando a pessoa está no auge da pior TPM de sua vida?

Ah... grande erro... grande erro...

Dessa vez a pessoa desceu do carro, chegou bem perto dos operários e disse, num tom de voz já bem enérgico:

"_ Eu vou pedir com educação mais 1 vez. Saiam da minha frente por favor, que eu tenho mais o que fazer e vocês estão obstruindo a saída do meu prédio! Eu preciso sair agora, me dêem licença por favor antes que a coisa fique feia!"

A pessoa não sabe direito o que foi, mas da meia dúzia de operários uns 4 pelo menos recuaram depois que ela deu este últimato. Talvez fosse a sua fisionomia, porque dizem que uma mulher no auge da TPM por incorporar as feições do Capeta, e talvez isso tenha assustado alguns dos moços. Esses que se amedrontaram um pouco começaram a contemporizar que talvez fosse melhor o caminhão dar uma descidinha para liberar a saída, e depois voltar de ré.

Mas tinha uns 2 mais abusadinhos que apenas disseram para os colegas, num tom alto suficiente paItálicora que a pessoa - já de volta dentro do carro - escutasse:

"_ Ah, Zé, relaxa! Vamo fazê aqui o nosso, a madame que espere, nem deve ter nada importante pra fazer mesmo, essas madames desocupadas! Nós é que temos aqui que cumprir nosso horário pra terminar o silviço logo."

O que se sucedeu depois que a pessoa escutou aquela frase imbecil não é totalmente publicável, porque, né? A pessoa faz tudo que pode nessa vida pra manter a crasse, como disse no começo do post, mas tinha a pior TPM ever, né?

Só sei que a pessoa chegou a pegar um bastão que carrega no carro pra lutar com algum ninja que apareça na sua frente e chacoalhou o tal bastão na frente dos operários, já bem longe do diálogo sensato, gritando impropérios e fazendo ameaças que são - repito - impublicáveis.

A princípio os homens riram discretamente da atitude da pessoa enlouquecida, mas em poucos segundos perceberam a seriedade da situação e recuaram, e finalmente foram conversar com o motorista do caminhão sobre a possibilidade de sair da frente daquela louca.

A louca, por sua vez, entrou no carro e começou a buzinar, buzinar, buzinar, buzinar... entre uma buzina e outra gritava para sairem logo da sua frente, e continuava a buzinar, buzinar e buzinar. Os vizinhos começaram a aparecer nas janelas, tanto nos prédinhos meia-boca como nos prédios chiques vizinhos.

"_ A culpa é de vocês!", gritou a pessoa olhando na direção daquela infinidade de janelinhas do prédião vizinho, mas acho que a essa altura ninguém entendeu o que ela disse porque, né, a situação estava um tanto quanto tumultuada com outros barulhos.

Cerca de 5 minutos depois de começada a confusão, finalmente o caminhão saiu da frente, e a pessoa saiu como um furacão. Sua vontade real era fazer um strike de operários, pegando em cheio o grupinho de meia-dúzia que segundos antes ria da sua cara.

Graças a Deus um fiapo de responsabilidade jurídica persistiu e a pessoa, embora tenha passado voando e bem perto dos homens (o suficiente para assustá-los e fazê-los molhar as calças), não atingiu nenhum deles, nem qualquer outro ser vivo durante todo o dia, o que é, concordemos todos, uma grande vitória.

Foi por pouco. E a TPM, meu povo, não é brincadeira não, viu!

Jamais desafie uma mulher em fúria tepeemística. Jamais! Fica a dica.


Ah, sim, como nem tudo nessa vida é desgraça, apesar do contratempo dos homens e do portão obstruído, a pessoa conseguiu chegar no colégio do filho com apenas 1 minuto de atraso. Como? Bem... se chegar alguma multa por excesso de velocidade nos próximos dias, então saberemos. E desde que a multa não chegue bem durante a TPM, estará tudo (quase) certo.

3 comentários:

Anônimo disse...

não fica brava comigo não porque eu to rindo horrores. sabe porque?? porque eu me vi lendo o seu relato era como se eu tivesse vivido a tal situação.

Só que eu buzinaria mais, xingaria mais e teria ameaçado chamar a policia UHahuhAUHAUh

Sim eu sou descontrolada mas eu sou feliz kkkkkk

bora tomar um cházinho de camomila, invocar uns mantras e tal uahauhauhahu

bjoooo

Anônimo disse...

não fica brava comigo não porque eu to rindo horrores. sabe porque?? porque eu me vi lendo o seu relato era como se eu tivesse vivido a tal situação.

Só que eu buzinaria mais, xingaria mais e teria ameaçado chamar a policia UHahuhAUHAUh

Sim eu sou descontrolada mas eu sou feliz kkkkkk

bora tomar um cházinho de camomila, invocar uns mantras e tal uahauhauhahu

bjoooo

Vanessa disse...

Ai minha querida fada, não teria sido tão educada quanto essa "pessoa" foi, sou boca suja o suficiente para derrubar qualquer "obstáculo" à frente.
Mas pelo que li, a "pessoa" com toda classe, voz baixinha e doce conseguiu buscar o filho na escola e vem enfrentando essa fúria da melhor forma. Muito bom!
É isso aí fica a dica para as outras que sofrem deste mal como a "pessoa" e eu. (sorriso)
PS. Pega o documentário que é o máximo e depois me fala. Vc anda dando dicas aqui que no momento em que eu me aquietar vou colocar minha sessão DVDs em dia. Com um enorme balde de pipoca ao meu lado. Pipoca com guaraná...
beijos e saudades da Van.